O "UNIVERSO PESSOAL"
Quão estranho não nos parece o título destas linhas, "Universo Pessoal". Ora, se é universo, como ser pessoal? Como considerar que alguma coisa possa ter amplitude universal sendo de leitura pessoal? Mas é imerso neste paradoxo que entendo estarem as relações humanas. Não me refiro a nenhuma situação específica, mas falo de forma generalista. Tenho observado ao meu redor que as relações humanas, sejam em quais esferas forem, revelam um universo de pessoalidades. Todos são gestores (alguns se acham até criadores) do mundo e das circunstâncias que os cercam. Cada um tem razão sobre todos. Cada plano e projeto pessoal tem prioridade sobre os outros , assim como cada conceito e princípio. Não se considera a natural e salutar oposição pacífica de idéias diante de tão grande teia de possibilidades e que prevaleça o mais forte. Uma idéia deve vencer a outra. Uma idéia deve matar a outra. Uma idéia deve morrer!
Seria correta esta perspectiva predatória das relações humanas? A meu ver, e aqui sou bem mais específico, isso fundamenta alguns adoradores da "Lei do Gérson" que induz as pessoas a levar vantagem em tudo.
Critica-se a pilantragem alheia, porém é licito ser mais esperto e tentar conseguir vantagens nas situações corriqueiras. Isso chega a refletir até na forma como criamos nossos filhos. Lembro-me que a 12 anos passados, certa feita, em uma mesa de café da manhã no local onde trabalho, observei atentamente um amigo com um largo sorriso no rosto, contar as estripulias de seu filhão que estava agarrando as menininhas da sala de aula dele e que a mãe já teria ido duas ou três vezes na escola e não deu jeito e que ele estava sendo chamado. Dizia ele: “Esse moleque não é fácil. Vou ter que ter uma conversa séria com ele”. Contudo ele falava isso entre sorrisos e brincadeiras descontraídas de amigos de trabalho até que disse ainda: “Este moleque puxou o pai”.
Eu, quieto estava e quieto permaneci tomando meu café e somente observando, até que alguém me perguntou o que eu achava da situação. Eu resolvi responder em forma de pergunta. Eu sabia que ele tinha um casal de filhos sendo o garoto e a menina mais nova, lancei então: “O que você faria se fosse chamado à escola porque sua filha estivesse sendo agarrada por um menino da turma?”. Ele, imediatamente mudou o semblante, se esforçou para manter o sorriso sem graça no rosto enquanto outro amigo falava: “Está vendo? Pimenta nos olhos dos outros é refresco”.
Aqui, diga-se de passagem, temos muito mais do que simples machismo. Aqui temos o resultado de uma sociedade viciada nesta cultura predatória, onde o mais “esperto” é o que afere vantagem sobre seu semelhante. Alguns chegam a atribuir peso de honra a tais delitos morais.
De igual modo, vemos, nas relações profissionais onde interagimos com companheiros de trabalho, que muitos levam o dia a dia como se estivessem em um campo de batalha onde o seu companheiro de serviço é o seu principal opositor e adversário. Pessoas que deveriam estar unidas em torno de um ideal já que a lógica indica que se um ganha todos ganham e se um perde todos perdem. Mas ainda assim, os tais “espertos, malandros” desafiam a própria lógica como se estivessem cegos e perdidos, vagando em meio às suas sandices. Completamente avessos à qualquer princípio ético, alguns ainda ocupam funções de liderança e avaliam seus subordinados. Que tipo de avaliação profissional um sujeito desses pode produzir?
Cobramos do poder publico uma polícia mais honesta e eficiente. Profissionais da saúde mais humanos, políticos que não sejam corruptos...etc... Parecemos esquecer que somos nós que estamos lá. Policiais são pessoas, médicos são pessoas e políticos são pessoas. Será que não há algo de errado na consciência social? Entendo que mais dia menos dia vamos ter que repensar nossa própria existência enquanto seres sociais e gregários. E creio que isso vai se dar por força das circunstâncias, tamanho o nível de crueldade, desumanidade, desonestidade, e corrupção do gênero humano.