domingo, 14 de agosto de 2011

PORQUE NÃO VALORIZO TANTO AS DATAS COMEMORATIVAS



No momento em que inicio estas linhas são exatamente 23:45hs do domingo “dia dos pais”. Já é findo este dia e somente agora resolvi escrever alguma coisa referente a esta data comemorativa. Aliás, não só referente a esta data mas a todas as datas comemorativas. Sinto-me à vontade para escrever com liberdade e desprovido de qualquer emoção própria para o dia. Para muitos isso seria uma espécie de signo da insensibilidade, mas fato é que, durante toda a minha vida familiar, não fomos acostumados a valorizar estas datas temáticas tanto quanto a maioria das famílias o fazem. Daria para contar nos dedos os momentos nos quais fizemos uma ceia de natal tipo “mesão pra família”. Claro, sempre rola uma ceia. Comemos as comidas típicas do período (embora comprovadamente comemos muita coisa desaconselhada para o verão de dezembro). Mas não supervalorizamos a data em si.
Mas por que esta resistência em reverenciar o dia comemorado? Eu poderia responder somente que é pelo fato de não ter sido acostumados a isso. Assim como muitos consideram normal comemorar de forma especial estas datas, na casa dos meus pais fomos acostumados a ver estes dias como outro qualquer. Entendemos que, se neste dia devemos expressar um sentimento especial para com quem amamos, porque não fazê-lo o ano todo? Por que não expressar algo especial no dia a dia, de forma não tão festeira, mas sincera e significativa? Ok, eu sei, isso tudo pode parecer para a maioria uma coisa meio que sem sentido ou até bobagem. Alguns ainda diagnosticariam essa forma de ver as coisas como uma espécie de patologia familiar, mas, concorde você, amigo leitor, ou não, existem pessoas que pensam assim. E não é só uma família. Não é a maioria claro, mas existem muitas famílias que vêem as coisas sob este prisma. Pura e simplesmente por questão de hábito cultural familiar.
Posto isto, sem qualquer outra justificativa além do costume, passo a discorrer sobre o que penso acerca destas datas festivas. Apenas alguns breves aspectos.
1 - O primeiro aspecto é a efemeridade do momento, onde, se muitas pessoas realmente expressam o que sentem e pensam de você durante todos os dias do ano, algumas se desmancham em carinhos confraternizadores que todos sabem que durarão apenas um dia. Muitas das vezes estes carinhos de momento estão temperados por entorpecimento de bebidas. Alguns chegam ao ponto de chorar copiosamente ou rir à exaustão e, para justificar a efemeridade, alegam ser um momento de “renovar a paz” ou “aliviar o stress familiar”, ou qualquer outra explicação que o valha mas... de que vale uma expressão de carinho que não tem continuidade? Uma expressão de carinho que vale por uma noite ou, no máximo, por alguns dias após a grande data comemorativa? De que vale a presença física de alguém que não se apresenta integralmente com sua alma? Aqui pego o gancho para o segundo aspecto.
2 – O segundo aspecto é que a supervalorização das datas comemorativas nos leva a uma sobrevalorização da forma em detrimento da essência. Que quero dizer com isso? Quero dizer que supervalorizamos a presença física das pessoas nestas datas como se a presença material delas ali fosse a real expressão da importância que temos para elas. Perigoso isso, porque entendo que esta é a nascente para os rios de decepções e também para a potencialização da dor da ausência daqueles a quem amamos e não estão mais fisicamente conosco. Trocando isso em miúdos; aqueles cuja presença física ainda é possível porque estão vivos, acabamos fazendo tanta questão que estejam de corpo presente que julgamos não gostarem de nós os que por algum motivo não vão porque não gostam de comemorar “datas”. Isso acaba até forçando a estas pessoas a mentirem alegando motivos de impossibilidade quando na verdade não vão porque não gostam de certos tipos de comemorações. Mas, por tudo o que é sagrado; será que isso é motivo para julgar o que uma pessoa sente por outra? Por outro lado, julgamos que as pessoas que gostam de ambientes festivos e que, por isso, sempre estão presentes, realmente gostam muito de nós. Será? Quanta decepção já não tivemos com pessoas que se acercam de nós? Aliás, se tem um tipo de decepção que dói é a decepção com aqueles dos quais não esperamos revés. Momentos e ambientes festivos são o habitat natural de falsos amigos, pois ali eles conseguem se misturar com os verdadeiros amigos. O outro lado da mesma moeda neste aspecto é o que eu chamei linhas acima de “potencialização da dor da ausência daqueles a quem amamos e não estão mais fisicamente conosco”. Aprendemos a valorizar tanto a presença física que focamos nisso a nossa felicidade. É bom estar fisicamente perto de quem amamos, tocar, sentir o toque, carinho, sorriso, a voz, mas definitivamente se uma pessoa não está presente fisicamente não significa que ela não esteja ali vinculada as nossas almas. A maior marca que uma pessoa deixa em uma outra vida é a marca na alma. Esta marca definirá o que alguém significará para nós, por toda a eternidade. É a supervalorização da presença física que faz muitas pessoas, mas muitas mesmo, sentirem-se infelizes em datas comemorativas quando não têm mais um ou outro ente querido presente fisicamente. Para muitos, o natal passou a ser triste... o dia das mães passou a ser triste... o dia dos pais passou a ser triste... o dia das crianças passou a ser triste...etc... Mas a pergunta que faço é... Por quê? E respondo, a meu ver, por causa da supervalorização que algumas famílias desenvolvem acerca da presença física em ambiente festivo. Certamente o que de mais importante eu e você temos de lembranças de nossos queridos que se foram fisicamente não está em ambientes festivos, mas sim nas pequenas lembranças de momentos singulares marcados para sempre em nossas almas.
E ainda tem esse lance de “fazer uma social”. Na boa, só faço uma social quando a empresa estabelece algum “cófi breiki”, reunião, seja festiva ou não, mas que tenha algum significado corporativo. Aí sim acabo indo, mas porque sinto-me na obrigação profissional de ir. Na minha vida pessoal não existe esse lance de “fazer uma social”. Eu vou onde quero e em ambientes onde sentir-me-ei bem. E que os meus amigos e familiares me perdoem e me compreendam porque isso em nada diminui o meu carinho e respeito por cada um deles.
3 – Um último aspecto é o lado comercial destas comemorações. Poucas coisas neste mundo me deixam mais chateado do que o sentimento de estar sendo manipulado. Entendo que nestas datas existe uma manipulação comercial gritante das pessoas na medida em que os preços são majorados justamente por conta da perspectiva temática da data. A única exceção à regra são os aniversários que não podem ser explorados conjuntamente justamente porque cada um tem um dia de aniversário. No mais, todas as datas temáticas sofrem bombardeios comerciais com a majoração de preços de itens específicos que vão de cerca de 40% até 100% de encarecimento entre produtos e serviços. Portanto, presentes, comprar bem antes ou depois destas datas é o mais inteligentemente econômico. Se deixar para se saciar em datas temáticas, vais morder anzol!