quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

PORQUE NÃO ACREDITO EM HUMANOS.




PORQUE NÃO ACREDITO EM HUMANOS.

Não acredito em humanos porque todos têm uma inclinação natural para fazer o que é mal. Porque esta inclinação contagia inevitavelmente a todos os humanos na proporção em que deixam a infância e alcançam o entendimento de adultos. O conhecer a diferença entre o bem e o mal é também conhecer duas opções e inevitavelmente o homem convive com uma e outra no curso de sua vida. Uma dualidade comum a todos, onde ainda que se almeje o bem, o erro, por incontáveis vezes, vincula o homem ao mal.
Este assunto é vasto e bastante ideológico, digamos assim e muitos vão concordar com pouquíssima coisa do que vou dizer; mas minhas considerações estão longe de serem postas como verdades absolutas. São apenas conjecturas.
Serei específico com o foco no que me levou a escrever estas linhas.
Falarei sobre o mal inevitável ao gênero humano.

Acima eu disse que “...ainda que se almeje o bem, o erro, por incontáveis vezes, vincula o homem ao mal”. Claro que estou excluindo aqui os que “planejam” o mal. Aqueles que têm o mal como objetivo desejável. A estes eu não atribuo a palavra “ERRO”, justamente porque errar é “tentar acertar e não conseguir”. Os que desejam o mal não tentam acertar (fazer o que é bom). Fazem o que desejam que é o mal para o próximo em prol de seus objetivos. Logo, excluo estes da minha abordagem.
Falo aqui de toda a parcela de humanos (a grande maioria) que deseja fazer o bem, que planeja o bem, mas nem sempre consegue atingir porque o erro as leva a errar o alvo. E quem é que sofre desta dificuldade? TODOS, simplesmente todos os humanos, inclusive eu é claro. (Esse é o meu entendimento da questão).
Até aqui eu creio que está tudo bem para o amigo(a) que ousou empregar seus preciosos minutos para ler, mas acredito que daqui para diante o que eu tenho para dizer desafia alguns conceitos que estão amalgamados com o próprio entendimento do que é ser “humano” em muitas das filosofias de vida. Aqui eu serei mais obtuso sem medo de errar até porque este texto mesmo apresenta os humanos como pessoas que tentam acertar, mas que inevitavelmente incorrem eventualmente em erro. Aceito minha condição humana e não nego que meus conceitos são passíveis de serem mudados na medida em que eu evoluo, mas nem por isso me furto em apresentar como hoje penso.
Entendo que o gênero humano sofre de um estado de corrupção da alma (degeneração desta), que faz com que todos careçam de assimilarem valores excelentes no curso da vida. Valores tipo: amor, caridade, compreensão, paz, felicidade, justiça...etc... Sem os quais o humano se perde em meio a uma selvageria bestial. Humanos que são privados destes valores por toda uma vida, duas coisas acontecem com estes: Ou descobrem um líder mal que os domine e descambam para o fundamentalismo; ou vivem como bestas fera destruindo a si mesmos e a outros que nada tem com eles. Mas aí alguém perguntaria: “Mas e os que recebem educação familiar e com ela os valores excelentes os quais você citou acima e ainda assim descambam para o mal, ou ao menos sustentam um estado distorcido destes valores?”. Eu responderia: É exatamente isto que chamo de erro (errar o alvo). Claro, considerando que o alvo seja fazer o bem. Considero que este é o grande desafio a ser perseguido pelo homem em um mundo cada vez “menor” no sentido de espaço e recursos para subsistência. Cada vez mais é importante que os humanos desenvolvam um novo sentido de existência que não considere mais objetivos pessoais exclusivos, mas objetivos pessoais que eu chamaria, em trocadilho, de “inclusivos”. No sentido de que o meu semelhante seja menos concorrente e mais parte do meu sucesso ou fracasso. É preciso despertar a consciência de que o que chamamos de “humanidade” nunca vai ter sentido pleno se não considerarmos um todo como alvo. A humanidade é uma grande tangerina onde cada um de nós somos um gomo. Se falta um gomo a tangerina não está completa. Como podemos falar em humanidade se não somos humanos com todos?
Aqui acho que vale a pena repetir que os que “planejam o mal” estão fora da minha abordagem. Eu falo daqueles que assimilam ou tentam assimilar os valores excelentes, desejam e tentam fazer o bem, mas que por vezes erram o alvo. Aí alguém poderia me perguntar: “Mas escrevendo aqui é mole. Como saber diferenciar entre os que planejam o mal e os que estão tentando acertar, mas erram?”. Eu responderia: Eu não disse que é fácil diferenciar. Mas digo que a forma mais eficaz de fazê-lo é olhar o fruto que as pessoas produzem. Assim como as árvores recebem o nome segundo o fruto que produzem, assim humanos também produzem frutos segundo a essência que carregam em si mesmos. Se notar uma bananeira produzindo laranjas, ainda que se pareça com uma bananeira, na verdade é uma laranjeira. Se existe forma mais eficaz de diferenciação eu desconheço.

Bem, prosseguindo na linha de raciocínio focando o “desejar o bem e às vezes errar”, temos as relações humanas como o campo onde tudo se desenvolve. Sabemos e reconhecemos que não existe nada mais democrático que o erro, embora muitas das vezes vivemos como se não errássemos, como se o erro fosse uma exclusividade dos outros. Muitas vezes nos vemos como se fôssemos o sol da galáxia e todos os planetas devem girar em torno de nós. Em torno de nossos conceitos e abstrações pessoais.  Ignoramos que ao desejar fazer o bem estamos sujeitos a errar. Erros que na maioria das vezes não é na essência, mas sim na forma. Por vezes parece que não nos caiu a ficha de que humanos, todos, sem exceção, erram mesmo quando tentam acertar. Não alcançamos o entendimento de que mais erramos do que acertamos no curso da vida e que, como disse a minha prima Eleni Rego em um comentário que fez a um texto meu, dias atrás: “...afirmo que os erros são nossas melhores lições, aprendemos muito mais com o sofrimento do que com a alegria, porque certamente não vamos mais querer repetir a dose da dor...enfim faz parte da Vida”. Sim, isso! Faz parte da vida! Acertar e errar faz parte da vida! E concordo integralmente com Eleni que aprendemos mais com os erros do que com os acertos.
Aqui eu vou usar de mais especificidade. Vou ser sincero em afirmar que não estou ainda totalmente convicto disso, mas, parece-me que o que mais atrasa e dificulta as relações humanas no tocante a uma maior compreensão mútua é o “pretenso poder de julgamento” que além de rotular pessoas, sectariza, divide, separa, desune. Tudo em nome de um conceito pessoal ou entendimento particular que ignora que somos todos iguais... ou deveríamos ser.
É impressionante como o julgamento nos fecha para um ângulo diferente e nos faz rotular pessoas e atira-las em uma vala comum de erro da qual pensamos não participar. É fácil julgar... É fácil afirmarmos que estamos certos, isolarmo-nos em nossas abstrações e condenar outros pelos erros cometidos. Sim é fácil. E sabem por que é fácil? Porque o coração humano é igual a internet. O que quisermos encontrar encontraremos. O segredo é saber o quê, exatamente, buscamos. Para dar continuidade à desagregação nas relações basta aplicar a seguinte fórmula: 1 – Oculte seus próprios erros atrás do entendimento do que VOCÊ acha certo. Ignore outras cosmovisões e se ache “o sol da galáxia”. Assim você estará ignorando que é alguém sujeito à falhas também. // 2 – Julgue (como quem está de fora do erro). Julgue rotulando as pessoas segundo seus conceitos pessoais. Com base no seu próprio umbigo. Ignore que há sabedoria na diversidade. 
E se isso lhe soa estranho e duro, não se surpreenda se eu disser que estas são duas das coisas que mais os humanos fazem no curso de sua vida. 

Estamos às portas de um novo ano. Sugiro que o momento seja propício para nossas avaliações pessoais, mas, que, por Deus, estas avaliações considerem a humanidade como um todo; no sentido de engajarmo-nos na difícil tarefa de tornar este mundo melhor. De nos motivarmos a dar um sentido menos egoísta às relações humanas... esquecermos um pouco nossos próprios umbigos e lembrarmos que todos tem umbigos. Redes sociais são uma poderosa ferramenta que, com o acréscimo que vem tendo em tecnologia, nem fazemos idéia ainda de suas potencialidades. Creio que a ferramenta está aí, sendo aperfeiçoada. Penso que precisamos evoluir enquanto humanos porque a tecnologia não garantirá um futuro melhor se as mentes humanas não evoluírem junto. 
Então, quem sabe,  um dia humanos serão confiáveis. Por enquanto, não dá pra confiar na forma como administramos o mundo.