terça-feira, 19 de julho de 2011

FUTEBOL CIRCO





Claro que quem menos tem culpa são os jovens atletas, detentores da qualidade, mas que são mal trabalhados e acabam com egos inflados e mais preocupados em fazer firulas do que unir forças e atuar em equipe em busca da vitória. Os atletas são apenas peças de um grande tabuleiro de ilusões ao qual convencionamos de chamar de futebol arte, mas que é, na verdade, futebol circo.
Não discuto se o Dunga errou ou não em não levar para a Copa Neymar, Ganso, Adriano, etc. A questão não é essa. A rejeição que o Dunga sofreu não foi por ter perdido uma copa do mundo, mas sim porque contrariou a mídia esportiva por não atender a demanda de firulas e pedaladas enquanto orientava a seus escalados a jogarem para o time e não em busca de holofotes midiáticos. Dunga era o inverso desta mídia que está aí e incentiva o futebol palhaçada, sem objetividade e que joga somente para dar show. Também não discuto a competência do Mano. Acho-o um ótimo técnico. Sério, comprometido com resultado. Vamos ver até onde Mano vai conseguir conciliar a satisfação midiática com a busca efetiva por resultados. Mais dias menos dias Mano vai se ver em frente da grande encruzilhada na qual todo técnico da seleção se vê. Ou atende a demanda midiática transformando seus jogadores em palhaços ou arma uma equipe competitiva. É como vejo.

Lembro-me das pesadas críticas que o Parreira sofreu na copa de 1994 e da cova aberta que aguardava ele, comissão técnica e vários jogadores sob uma lápide já inscrita em letras garrafais "AQUI JAZ A ERA DUNGA". Mas os críticos favoráveis ao futebol circo tiveram que enterrar as próprias críticas na cova e esperar nova oportunidade, pois Parreira provou que estava certo em jogar para o resultado e foi campeão do mundo depois de 24 anos de jejum. Lembro-me também de que se o Felipão não voltasse com o caneco, estaria até hoje marcado pela sombra de não ter levado Romário pra copa. Em comum entre os campeões mundiais Parreira e Felipão, a resoluta decisão de criar equipes competitivas em detrimento do espetáculo. Para eles o futebol é, acima de tudo, resultado. Vindo tão somente depois o espetáculo.
  
Já corremos o risco de ver isso aqui se transformar em uma grande palhaçada no quesito organização. Estamos transformando nossos atletas em palhaços do futebol circo e aí a palhaçada fica completa.



A POLÊMICA DOS AUTOS DE RESISTÊNCIA



Por conta do caso recente do menino Juan a polícia resolveu colocar em prática o procedimento padrão de preservar o local para a perícia da polícia técnica. Este procedimento não é novo, apenas não era praticado em locais considerados de difícil acesso. A portaria 553 da Chefe de Polícia Civil Martha Rocha prevê exigências antes que as mortes em operações sejam registradas como autos de resistência. Antes desta portaria a versão dos agentes envolvidos na operação prevalecia nos registros.
Pois bem. O quê, exatamente, se pretende com essa nova portaria? Certamente evitar com que policiais criminosos se privilegiem da investidura para ocultar atos criminosos de execução ou conluio com o crime. Ok. Mas, a pergunta é, isso resolve a questão? A necessidade de perícia (que é feita por outro policial) elimina a possibilidade de que execuções outras sejam feitas?
Desde os tempos do esquadrão da morte, mão-branca, etc, sabemos que policiais criminosos agem com conluios empregando técnicas de "limpeza" de área de sinistro e criação de locais inidôneos que às vezes incriminam até a própria vítima. As populares "velinhas" com disparos pós-morte encenados nas mãos do morto com armas frias. Tudo isso é conhecido por qualquer um que se interesse um pouco mais por casos de investigação policial. Logo, meus caros amigos, parece-me que, embora seja uma medida correta, a presença obrigatória da perícia em todos os casos onde houver resistência armada não vai resolver definitivamente o problema do crime corporativo. Estou dizendo isso porque penso que dever-se-ia, também, promover o afastamento e investigação criteriosa e isenta dos policiais supostamente envolvidos em fraudes. É preciso afastar, isolar, retirar as laranjas podres senão todo o sistema permanecerá comprometido. Qualquer coisa menos que isso será, no máximo, um inútil trabalho de enxugar gelo. Acontece que o segmento articulista dos conluios do sistema, adoram enxugar gelo. Enxugar gelo dá a falsa aparência de esforço criando uma falsa imagem de ação por parte do alto comando. Parte da população é enganada com isso e assim o sistema de corrupção interna se perpetua cada vez mais ampliando suas garras e estendendo seus domínios. Isso a ponto de fazer o policial honesto sentir-se abandonado e órfão, correndo, inclusive, o risco ser eliminado por ser um potencial caguete por insistir em ter as "mãos limpas".
Não vamos nos enganar. Não existe esse lance de "único certo". Se todo o contexto age de um determinado modo, aquele que age diferente é um corpo estranho que precisa ser mudado, anulado ou mesmo eliminado. Essa é lei. Lembro-me de um amigo que, concursado formado, deixou a PM, preferindo ficar desempregado mesmo com filho recém-nascido em casa do que correr o risco de morrer mais dia menos dia. O medo desse amigo não era o de morrer em confronto com o inimigo, mas sim de ser executado por outros policiais por ser ele correto e não concordar negando-se a participar do "sistema".
No dia a dia esta questão é tratada como se o sistema de corrupção fosse a exceção na polícia, mas na verdade a exceção é a honestidade, integridade e inteireza de caráter. O sistema está corrompido e ser policial honesto é a exceção. Infelizmente.