sexta-feira, 28 de janeiro de 2011



UPP – O “Day after”
Eu apoio a iniciativa das UPPs, mas me preocupo com “o dia seguinte” a tudo isso. A grande questão que dificulta os efeitos das ações policiais não é a incursão em sim, mas sim a estratégia de ocupação.  Como será o dia seguinte a tudo isso, quando as favelas estiverem todas dominadas? Será que todas as favelas do Estado serão mesmo ocupadas efetivamente pela polícia ou o projeto contempla somente as comunidades de maior porte e mais ao centro do Rio e zona sul?

A notícia que temos é a de que os criminosos estão migrando para outras localidades e que, na medida em que o Estado está se apresentando como inimigo comum a todas as facções, a informação que rola é a de que estão sendo costuradas alianças com pactos de reaparelhamento do crime com clara possibilidade de organizarem-se dentro de uma nova configuração. Muito me estranha esta não resistência em focos onde criminosos respondiam pesado e destemidamente contra a corporação policial.

Claro que sempre fui da opinião de que a polícia, quando quer, entra e não pode ser resistida por mais armados que numerosos que sejam os traficantes. Contudo, ocupações sem resposta armada? Com desocupação total de véspera? Isso me soa “pacífico demais” para a situação de domínio que estes grupos tinham nas comunidades onde estavam instalados. Mas, melhor que seja assim. Mais tiros, maior a probabilidade de vítimas. Contudo, isso não exclui a minha preocupação com o “Day after”. Como é que será feito o gerenciamento da permanência destas ocupações? Quem fiscalizará os policiais e a forma como se relacionarão com os moradores? E a banda podre que compõe o “sistema” que gostamos de negar a sua existência, mas que todos sabemos que existe e tem braços grandes e fortes mesmo “no asfalto”. Como ficarão estes poderosos braços dentro das comunidades, onde os desmandos sociais são mais propícios até pela geografia fora do planejamento urbano?

Sem mais delongas creio que enfrentar o crime e ocupar é um grande desafio. Manter a ocupação em moldes institucionalmente e moralmente corretos é outro desafio, a meu ver, muito mais complexo. Neste âmbito entendo que a sociedade tem um papel fundamental através das ONGs e da iniciativa privada. A ocupação armada é apenas o primeiro momento. É preciso que o Estado se alinhe à sociedade com planos de ocupação social. Na verdade não há nada de novo neste discurso e isso, pelo que a imprensa veicula, já tem sido feito nas comunidades dominadas pela polícia. Mas a pergunta que não quer calar é, até quando? É preciso levantar este debate para que, desde já se discuta a continuidade da presença do Estado nas comunidades não somente militarmente, mas também com a presença social promovendo a inclusão dos moradores na realidade dos direitos e deveres sociais.

Mas, o “Day after” não parece ser a principal preocupação agora.

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