domingo, 23 de janeiro de 2011

O HOMEM DO FUTURO

Estive lendo um periódico interno de minha empresa e vi o anúncio da aprovação do financiamento de R$2 milhões para o filme “O Homem do Futuro”, escrito e dirigido por Cláudio Torres tendo como protagonistas, Wagner Moura e Alinne Moraes. O lançamento está previsto para setembro deste ano. O filme trata de um brilhante físico que, ao perder a mulher, decide criar uma máquina para voltar no tempo e consertar o seu futuro. Fica aí a sugestão, pois o filme parece ser uma boa pedida, no mínimo com um pano de fundo interessante.

Bem, satisfeito o papel social da divulgação cultural, passamos à reflexão.
Pus-me a pensar nesse lance de “máquina de voltar ao passado para consertar o futuro”. Um assunto que estimula o imaginário popular por conta da inquietante expectativa que temos acerca da vida. Temos uma preocupação natural de procurar tornar a passagem pela vida a melhor possível e, nessa jornada, não foram poucas as vezes que indagamos a nós mesmos sobre “como teria sido diferente se tivéssemos feito assim ou assado”. Não foram poucas as vezes que, face às circunstâncias, desejamos poder voltar ao passado para consertar uma coisa ou outra; se assim pudéssemos fazer. Quem nunca pensou assim alguma vez na vida? Estou certo de que você que lê estas linhas já cogitou dessas coisas mais de uma vez na vida.

Pronto! Vamos imaginar aqui que isso fosse possível. Vamos imaginar que tal máquina de fato existisse e fosse possível escolhermos dia e hora do passado para voltarmos e consertarmos erros cometidos que nos trouxeram dividendos negativos. Tente, agora, imaginar sua vida diante desta possibilidade como se fosse real. A primeira grande problemática a se desenhar diante de nós, seria saber para antes de qual dos inúmeros momentos de erros gostaríamos de ser transportados. Muitos foram os erros que cometemos, assim como muitos os acertos. E erros e acertos estão intimamente ligados até porque muitos dos acertos nas escolhas que fazemos, são provenientes de experiências que tivemos com os insucessos dos erros cometidos.

Em suma, se pudéssemos voltar no tempo para corrigir erros do passado, acabaríamos por desfigurar completamente nossa vida, interferindo em nossa personalidade e destruindo o que de fato somos. Um somatório de erros e acertos. Acredito que esta máquina, se existisse, acabaria com a existência de quem a ela se submetesse. A simples volta ao passado e a correção de uma trajetória, faria com que não estivéssemos no mesmo lugar quando o futuro nos levasse novamente ao ponto de partida na relação tempo X espaço. O lugar de onde supostamente teríamos vindo para corrigir o passado.

Eu viajei agora nas palavras, rs rs, sei disso. Contudo estas perspectivas do “se fosse assim ou assado” nos remete a uma infinta gama de possibilidades como as variantes de um jogo de xadrez. É complexo mesmo! Mas esta reflexão não tem por escopo resolver a questão, nem mesmo opinar conclusivamente sobre. Proponho, como na maioria das reflexões, o pensamento livre. A livre reflexão. Que cada um analise a questão sob sua perspectiva pessoal acerca deste universo intrincado que é a vida humana.

Até concordo que uma coisa ou outra mais proeminentemente negativa que fizemos pode vir a ser objeto de profundo pesar, que gostaríamos de expurgar de nossa história de vida pessoal. Mas, em linhas gerais, são muitos os erros que cometemos no curso da vida; e esses erros acabam sendo importantes na formação de nossa personalidade. Cicatrizes doem e marcam a carne, mas aperfeiçoam a alma. Considero isso tão importante que entendo que esta oscilação entre erros e acertos é o fogo que forja o nosso caráter e nos dá o real sentido de humanidade. Somos humanos justamente porque acertamos + erramos + sentimos. Eis o grande mistério da vida!

Então voltemos a nos colocar diante da tal máquina. Diante da possibilidade de corrigirmos o passado e, consequentemente alterarmos o futuro. Será que estaríamos dispostos a pagar o alto preço? Será que estaríamos dispostos a corrigir o passado mesmo sabendo que isso nos transformaria em quem “não somos” quando novamente voltássemos ao ponto de partida? Estaríamos dispostos a jogar no mar da não existência toda a experiência adquirida pelos tropeços que cometemos na vida? Eu não sei quanto a você amigo leitor, mas, acredito que se eu estivesse diante desta possibilidade, só aceitaria mudar uma coisinha ou outra pontual que muito me incomodasse, mas não todos os erros. Sei que se me fosse possível corrigir todos os erros duas coisas me aconteceriam:
  1. 1-     Eu deixaria de existir como sou hoje. Poderia até passar a existir um “modelo de perfeição” em meu lugar, mas não seria mais “EU”.
  2. 2-      Mesmo expurgando erros cometidos, eu fatalmente cometeria outros! E acabaria precisando voltar para corrigir outros erros...rs rs rs. Isso tornaria minha vida cíclica, “sem pé e sem cabeça”, e desprovida de personalidade e experimentação que me permitisse crescer enquanto pessoa. Eu seria menos, ou quem sabe, nada humano.

Reflitamos sobre isso. Pensar é dar sentido à vida.
Eu, sinceramente gostaria de ler alguns comentários sobre este assunto. Se puder, por favor, opine.

4 comentários:

Beth Faria Souza disse...

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Pois eu, com o que sei hoje melhor da vida e muito menos intolerante com as pessoas... gostaria de voltar ao passado para refazer algumas importantes passagens... hoje, eu seria uma pessoa muito melhor, pois teria aprendido mais cedo valores que realmente me tornam feliz por ser mais justa com as pessoas e com os acontecimentos... mas, ainda sem ter o poder de voltar ao passado, procuro, no presente, reparar erros... vou ter de morrer carregando culpas, mas até minha passagem, pretendo evoluir e resgatar o que ainda for possível contando com a também evolução de outras pessoas...

Seria muito bom ser uma pessoa melhor e não desejo mais colocar empecilhos ou desculpas para adiar meu caminho pela estrada da sabedoria...

Não tenho grande apego ou orgulho pelo que sou se não tiver o firme propósito de ser melhor a partir do enfrentamento com minhas fragilidades e me dispor a vencê-las...

O tema do filme é muito interessante, quando for lançado, ver se bem apresentado e narrado...

Você escreve primorosamente bem... tem uma capacidade argumentativa visceral e extraordinária! Abraços
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Aldo Ferreti disse...

Obrigado Beth, pela atenção dispensada na leitura e expressão de opinião. Sua opinião sempre é muito importante para mim. Sinto-me feliz e privilegiado com sua participação.

Grande abraço

Rosa disse...

Gosto de vc assim.
Se vc mudar alguma coisa...um tiquinho....vai deixar de ser vc e então vou gostar de vc de outro jeito.
Somos os que vivemos, o que pensamos , guardamos, amamos odiamos.

E eu sou isso aqui. E vc é isso aí.
E tudo isso é maravilhoso!

Vc já leu a ORAÇÃO DE GESTALT?

bj

Aldo Ferreti disse...

Sim eu li Rosa. Dizeres que dão um sentido um tanto quanto libertador, eu diria; mas o que não consigo entender é porque é chamada de "oração"?
No mais, concordo integralmente contigo no que disse e foi esse o sentido que apliquei quando procurei navegar no mar das incidências dos erros e acertos naturais à vida. Penso que desejar voltar para corrigir erros seria como desejar apagar parte da própria história.
Apagar partes do curso da vida, ou fazer com que coisas ocorram de forma diferente, poderia resultar em uma vida melhor mas seria uma OUTRA vida. Somos a soma de todos os erros e acertos. Penso que seja assim. Eu sou o que sou por causa das escolhas que fiz, sejam elas boas ou ruins.