Por conta do caso recente do menino Juan a polícia resolveu colocar em prática o procedimento padrão de preservar o local para a perícia da polícia técnica. Este procedimento não é novo, apenas não era praticado em locais considerados de difícil acesso. A portaria 553 da Chefe de Polícia Civil Martha Rocha prevê exigências antes que as mortes em operações sejam registradas como autos de resistência. Antes desta portaria a versão dos agentes envolvidos na operação prevalecia nos registros.
Pois bem. O quê, exatamente, se pretende com essa nova portaria? Certamente evitar com que policiais criminosos se privilegiem da investidura para ocultar atos criminosos de execução ou conluio com o crime. Ok. Mas, a pergunta é, isso resolve a questão? A necessidade de perícia (que é feita por outro policial) elimina a possibilidade de que execuções outras sejam feitas?
Desde os tempos do esquadrão da morte, mão-branca, etc, sabemos que policiais criminosos agem com conluios empregando técnicas de "limpeza" de área de sinistro e criação de locais inidôneos que às vezes incriminam até a própria vítima. As populares "velinhas" com disparos pós-morte encenados nas mãos do morto com armas frias. Tudo isso é conhecido por qualquer um que se interesse um pouco mais por casos de investigação policial. Logo, meus caros amigos, parece-me que, embora seja uma medida correta, a presença obrigatória da perícia em todos os casos onde houver resistência armada não vai resolver definitivamente o problema do crime corporativo. Estou dizendo isso porque penso que dever-se-ia, também, promover o afastamento e investigação criteriosa e isenta dos policiais supostamente envolvidos em fraudes. É preciso afastar, isolar, retirar as laranjas podres senão todo o sistema permanecerá comprometido. Qualquer coisa menos que isso será, no máximo, um inútil trabalho de enxugar gelo. Acontece que o segmento articulista dos conluios do sistema, adoram enxugar gelo. Enxugar gelo dá a falsa aparência de esforço criando uma falsa imagem de ação por parte do alto comando. Parte da população é enganada com isso e assim o sistema de corrupção interna se perpetua cada vez mais ampliando suas garras e estendendo seus domínios. Isso a ponto de fazer o policial honesto sentir-se abandonado e órfão, correndo, inclusive, o risco ser eliminado por ser um potencial caguete por insistir em ter as "mãos limpas".
Não vamos nos enganar. Não existe esse lance de "único certo". Se todo o contexto age de um determinado modo, aquele que age diferente é um corpo estranho que precisa ser mudado, anulado ou mesmo eliminado. Essa é lei. Lembro-me de um amigo que, concursado formado, deixou a PM, preferindo ficar desempregado mesmo com filho recém-nascido em casa do que correr o risco de morrer mais dia menos dia. O medo desse amigo não era o de morrer em confronto com o inimigo, mas sim de ser executado por outros policiais por ser ele correto e não concordar negando-se a participar do "sistema".
No dia a dia esta questão é tratada como se o sistema de corrupção fosse a exceção na polícia, mas na verdade a exceção é a honestidade, integridade e inteireza de caráter. O sistema está corrompido e ser policial honesto é a exceção. Infelizmente.
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